sexta-feira, junho 30, 2006

Ócio Criativo ?!?!?

Ócio criativo?!?!?! Não acredito nisso. O ócio é inócuo para mim. Só trabalhando, mental e fisicamente, produzo e crio. O ócio me deixa estagnada, me limita e me consome.
Pode parecer maluquice, mas a gente tem mais tempo quando está mais ocupada, com menos tempo disponível. Deixe-me explicar, quando temos todo o tempo do mundo para executar uma tarefa, nós a postergamos com mais facilidade. Pois temos tempo para realizá-la a qualquer momento. Já quando o tempo nos é precioso, não adiamos nada. Tudo é para ontem e toda a tarefa será feita em nosso curto tempo disponível. Pois aí, e só neste momento, aprendemos a não desperdiçar nosso tempo. Pode parecer loucura, porém, desde que o mundo é mundo só se valoriza o que é escasso. E o tempo não foge a regra. Quando valorizado, é organizado, e até pode sobrar porque jamais é desperdiçado. Já quando o tempo é abundante, falta tempo para tudo.
Enfím, quando nosso tempo é escasso ainda temos outro benefício: sua riqueza. Isto é, quando nosso tempo é escasso significa que estamos muito ocupados grande parte dele. E, quando estamos ocupados, aumentamos as chances de lugares e situações de observação. Aproveitamos a garagem, o trânsito, o elevador, todo espaço e toda experiência é digna de uma observação. Consequentemente, multiplicamos a qualidade desse tempo. Pois este se torna rico de novidades. Análogamente quando temos muito tempo disponível nossa observação é limitada. Apesar da liberdade para buscar lugares e situações diferentes e interessantes, nos acomodamos a lugares e situações velhas e repetitivas. E a mesmice atrofia a mente, dificilmente gera este impulso criativo. O que muitos chamam de inspiração para escrever.
Perdi todo esse tempo em explicações para chegar a algo simples: sempre senti necessidade de escrever, porém não conseguia enquanto tinha muito tempo disponível. Agora, que estou trabalhando com horários rígidos, parece que meu pouco tempo ocioso, se multiplica e me sobra tempo para escrever essa mal-traçadas linhas.
Não se assustem, só consigo começar a escrever após muito trabalho. Como diz Clarice Lispector: "...Só consigo atingir a simplicidade após muito trabalho..." Parece que preciso justificar tal ato, ou a sua demora, devo muitas explicações ao meu leitor. Chega de "lero-lero", inacreditável quando tempo já perdi me introduzindo aos meus leitores. Mas será que, de fato, foi um tempo perdido? Estou discorrendo sobre nosso tempo disponível, como a escassez leva ao exesso de variedade, riqueza de observação e como isto nos torna mais criativos. E talvez, essa seja a grande observação do momento. Quando nosso tempo ocioso é grande, o deperdiçamos com pequenas e árduas tarefas repetitivas e nos esquecemos de observar ou, até de viver. Porque, será que existe vida sem observação?
Vou terminar esta longa introdução (delírio atrás de resposta a não sei que pergunta) com uma homenagem à uma das minhas escritoras prediletas: Clarice Lispector. Aliás, minha relação com Clarice é estranha e linda. Preciso contar a vocês. Identifico-me com sua forma de escrever. Um dia entrei num livraria, lugar que adoro passar meu tempo, e um dos livros que abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo surpresa e encantada, presa, ali mesmo. Emocionada eu pensava que as frases pareciam ter sido escritas por mim, se tivesse talento para exprimir meus sentimentos mais profundos. Nome do livro: A Hora da Estrela, autora: Clarice Lispector. Desde então, virei sua fã e admiradora. Assim, deixo para vocês uma frase dela bastante inspiradora:

"Escrever é procurar entender,
é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."

quinta-feira, junho 29, 2006

Introdução

Desde pequena queria ser escritora. Na ocasião da escolha das profissões, perguntei ao professor se deveria estudar jornalismo para ser escritora. Ao que ele me respondeu que para ser escritora tinha que ter dom e talento, não importava o que eu estudasse. Qualquer estudo serviria de tema para que eu escrevesse, se tivesse o dom.
Formei-me economista, mas nenhuma teoria me inspirou a escrever um tratado ou mesmo uma dissertação sobre o assunto. O tempo passou. Trabalhei em muitos lugares, mas sempre segui escrevendo. Não sobre economia, sobre o cotidiano. Qualquer momento ocioso era pretexto para uma nova crônica sobre o cotidiano. Enchi um gordo caderno com minhas Notas Cotidianas. Escrevia sobre tudo que observava. Há muitos anos alimento o sonho de algum dia lançar um livro.
Enquanto isso não acontece e eu não me torno uma escritora de verdade, compartilho minhas Notas Cotidianas com todos que se interessem em ler minhas crônicas. Muitas delas são ternas, outras são pura revolta. Certas crônicas parecem contos de amor enquanto outras são manifestações raivosas. Vou deixar que os leitores julguem e vou me sentir uma quase-escritora. Afinal, quem tem leitores é escritora, não?
Por favor leiam, critiquem, comentem, reclamem, julguem... Enfím, fiquem a vontade pois quem escreve para o público precisa estar aberto ao retorno. E eu estou! Quero aprender muito com esta nova experiência!