quarta-feira, agosto 23, 2006

Dança de Cadeiras

Sou uma mulher antiquada. Minha geração pregou a liberdade sexual, o Rock'n Roll, o cigarro, a maconha ... Mas gerou uma adulta ponderada.

Na minha juventude tive a oportunidade de experimentar a liberdade , aprendi a lidar com limites e a falta de deles. Tive uma experiência única para os padrões brasileiros. Vivi sózinha em um país distante com uma lingua diferente durante um ano, aos dezenove aninhos. Já tinha passado no vestibular, cursado um período na faculdade e estava cheia de dúvidas. Fui passar um tempo num Kibutz em Israel, sabendo apenas algumas poucas palavras de hebraico. Foi um período incrível que descobri-me por inteira. Ao ter acesso a uma liberdade total e irrestrita, fui madura e ponderada . Valorizei , já naquela época, a educação tradicional que meus pais me davam. Educação tal que fazia sentir-me tranquila para lidar com tanta liberdade, que me faziam assumir essa responsabilidade sem vacilos. Mesmo longe dos olhos dos meus pais, mantive meus valores. Experimentei o cigarro, a bebida e até a maconha porém, nada disso me encantou. E até hoje, não fumo , não bebo e tampouco uso drogas.

Quanto mais a idade avança percebo que pareço mais com minha mãe. Não tenho medo disso. Percebo que os valores que recebi em minha casa, foram testados, constestados e rechaçados por eu mesma em um tempo perdido entre a adolescência transviada e a juventude rebelde. Porém, quando a idade adulta chega, a maturidade enxerga por outro prisma esses valores, afinal a tarefa de educar nossos próprios filhos se inicia e nosso comportamento mais se aproxima ao de nossos pais do que o nosso próprio em tenra idade. Isto mesmo, não se espantem, pego-me muitas vezes mais parecida com minha mãe do que comigo mesma. Isto tem sentido visto que atualmente até meus pais mudaram e mais se parecem com avós do que com os pais de outrora.

A vida é mesmo uma dança de cadeiras. E a cadeira de adulto tem variações. Desempenhamos diversos personagens e atuamos em diversas novelas. Tem a fase em que somos filhos "aborrecentes", a fase em que somos adultos independentes, a fase em que somos pais e/ou mães, enfím, cada momento é único e nos transforma em um personagem único para lidar com ele.
Enfím, sinto-me antiquada na educação dos meus filhos. Apesar de querer que eles tenham todas as qualidades inerentes ao mundo moderno, como agilidade, flexibilidade, etc, quero que sejam firmes em seus valores morais e éticos, que sejam íntegros, solidários e sensíveis. Sou ainda "careta" no que tange a liberdade, acho que nos dias de hoje liberdade demais assusta, que são necessários limites bem delimitados, mesmo que seja para contestá-los ou infrigí-los.

6 comentários:

Anônimo disse...

Viver de forma intensa. Foi nosso lema de juventude. Tão transviada, tão experimentadora... Sim, vivemos de forma alegre, livre e com pouco juiízo.
Hoje também me vejo como meus pais. Aquela velha música do Belchior diz exatamente isso....
bjs amiga.
sima

Anônimo disse...

olga..lembro de vc.uma menininha...tímida,atrás dos óculos...mas com sorriso de pimentinha!!acho que a palavra "careta" já vem cheia de preconceitos,pois não é ser careta ter a coragem e a liberdade de escolha...e vc. é livre pra escolher ser vc. e ser feliz do jeitinho que vc, curte a vida!!e que sempre curtiu...parabéns ,adorei..assim tb é comigo!!!bj

Antônio Crotti disse...

Oi Olga!
Que postagem mais linda!
É engraçado como às vezes, quando adolescente, a gente critica nossos pais e a forma como eles estão nos criando. Eis que nos tornamos adultos e, na condição de pais (e mães!), seguimos aquele mesmo modelo que tanto criticávamos. No mundo atual, não há como ser diferente, pois não há um modelo de educação para os nossos filhos. Entre sermos "caretas" e sermos omissos, acho que você está fazendo a opção certa. Portanto, não se critique por isso. Tenha a certeza que você está querendo o melhor para os seus filhos, assim como os seus pais o quiseram. Um dia eles vão enxergar isso com bons olhos e, certamente, irão dar aos seus netos a mesma educação que você está tentando dar a eles.
Parabéns por ser uma boa mãe.
Adorei a postagem!
Um grande abraço!
Antônio

Sabrina Zahara disse...

nossa!
faz todo o sentido pra mim. Agora que sou mãe, me vejo criando meu filho como minha mae me criou e ainda faço aquelas coisas que antes dizia " quando eu tiver um filho vou trata-lo diferente."
será que ficamos parecidos com nossos pais por medo de errarmos mais que eles?
fica apergunta no ar!
beijos.

Anônimo disse...

Querida Olga,
Entrei no seu blog por acidente, mas me indentifiquei com cada palavra que li.
Também acho que todos os valores que foram renegados por eu mesma hoje são os que passo para meus filhos, valores morais e étnicos que são tão esquecidos nos dias de hoje em dia no cotidiano, com certeza.
Talvez por termos tido tanto contato com a liberdade conseguimos enchergar seus perigos quando da mesma abusamos.
Enfim, finalizando então, gostaria de estar dizendo novamente que gostei muito do modo o qual você escreve.
Vou continuar lendo e comentando sempre que possível!
Parabens!
Cristina.

Anônimo disse...

Oi Olga,
Gostei muito dos teus textos.
Sabia que eu também comecei a escrever?
Se você quiser te mostro - são poesias (desculpe a pretensão literária).
Vamos juntar nossos escritos e publicar um livro?
Me liga ou escreve um e-mail (você tem).
Abraços,
Pai do Léo, G1 & G2 (Tijuca).