terça-feira, julho 11, 2006

Crescer dói...


Preciso escrever sobre essa dor. Não aquela dor de cabeça para qual buscamos um remédio para alívio. Tampouco aquela dor no corpo provocada por gripes e viroses que nos deixam acamados. Mas aquela dor profunda que não é fisíca. Aquela dor que aperta o peito, que contêm o choro, que fecha os olhos e o sorriso. Que deixa nossa fisionomia tristonha, nosso semblante em agonia. Para essa dor é difícil calmante ou ansiolítico que acerte. Pode nos sedar , nos deixar serenos , por algumas horas, mas volta. A dor volta ainda mais intensa.

É a dor de doença em família, de morte, de tragédias. É a dor que persegue no caminho, no trabalho, em casa. Porque não somos capazes de saná-la. Não temos poder para resolver a origem da dor.É impossível solucionar o cerne da questão. Enquanto isso , a dor se alastra. Toma conta da gente. De nossos pensamentos e emoções. De todo o nosso corpo. Não estamos mais lúcidos para responder em sã consciência , a dor nos possuiu.

Infelizmente, tive a oportunidade de sentir isso. Meu pai doente, psicologicamente abalado, mentalmente pertubado. A sensação de impotência enormesca parece que cria volume em nossa gargante, um bolo que não dá para engolir.As lágrimas que teimam em rolar. É difícil descrever/escrever sobre isso.

Meu único consolo é que tudo passa. Por mais fundo que tenha sido, por mais longe que tenha ido, tudo na vida passa. Vai passando feito susto que se acalma. Vai sobrar um quê de emoção. Pode até ser confundido mas não é . Sobra o gosto ruím de quem viveu momentos tristes mas passa.

Passa deixando na gente cicatrizes eternas. Com certeza não sou mais a mesma pessoa de antes. A dor me endureceu, me amadureceu. Descobri amigos que nem sabia que tinha, valorizei cada pessoa da família, cada colega. Tive que pedir ajuda, buscar consolo, coisas que não estou acostumada à fazer. Tive que encarar de frente meus fantasmas, meu medo maior. Descobri que sou forte apesar de medrosa. Percebi que tenho que estar preparada para me sustentar nas minhas duas pernas. Não posso ser dependente, filha a vida toda. Acho que já está mais que na hora de perceber que já sou mãe e que o papel de dependente não mais me cabe. Preciso ser a filha forte para resolver o que for necessário, a filha inteira para consolar mãe e irmã. Tive que crescer !!! Acho que envelheci , de repente, uma década.

Talvez essa seja a dor maior. Descobrir-se adulta, mãe, não dependente. Descobrir que cresci e não posso mais fugir dos problemas me escondendo atrás dos meus pais. Eles já estão com idade avançada e precisam da minha maturidade para orientá-los. Chega de ser orientada !!! Chegou a hora de pagar tudo que devo à eles, de ser um pouco mãe deles. De ajudá-los. Difícil encarar a realidade de adulta independente e responsável. Crescer dói ...

Vou finalizar com uma frase da minha querida Clarice Lispector, que ilustra bem o momento que estou vivendo.

" Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro."

10 comentários:

Anônimo disse...

Ser ou não ser, eis a questão.... Velho porém atual. Somos adultos e , por isso, carregamos todos os tipos de sentimentos que o ser humano possa suportar. A dor também constrói. Após a nossa impotência frente aos acontecimentos trágicos de nossas vidas, somos obrigados a construir. Construir paredões onde nos tornamos tão duros como o concreto.
Não podemos deixar que esse paredão nos transforme totalmente. Aprender doi. Crescer doi. Mas como vc mesma disse, faz parte da nossa passagem nessa vida.
Paz e calma de espírito. É o que peço a Hashem.
Simone Plachta

Anônimo disse...

É irmã... a união fortalece... te amo!

Anônimo disse...

Minha querida amiga....
Lendo tudo o que vc escreveu pude perceber nesse momento entre outros tantos como o tempo é efêmero , tudo pelo que passamos nos deixa numa imensa solidão e nada , nem niguém pode nos tirar desse vazio . São momentos na nossa vida em que tudo o que queríamos era pegar nossa boneca suzi , ligar a vitrola e ouvir rock´n roll lullaby ( vc sabe pq estou escrevendo isso né?) , pAssar pela sala em direção á cozinha e poder ver nossos pais , nossa vida ,como se nada houvesse ocorrido , como se o tempo pudesse voltar , parar , sei lá....
Mas o melhor da vida é que ,mesmo tendo essa impossibilidade e carregarmos a imensa tristeza de vermos aqueles á quem amamos tanto cumprindo sua caminhada aqui na terra como seu querido pai está cumprindo, podermos ter a força de quem amamos estarem perto de nós , vermos nossos filhos caminhando ao nosso lado , termos por perto pessoas que amamos e que estão segurando a nossa mão . É sermos o esteio de nossa família e encontrarmos dentro de nós mesmos toda a força para lutar e vencer essas tempestades que se formam ´. É você olhar nos olhos do seu pai com a mesma doçura da menina Olga e ele não perceber neles nenhuma pena , dor , ou tristeza , somente toda a força que vc tem para dar á ele .
Um grande beijo minha querida amiga , vc que sempre povoou minhas mais doçes lembranças do passado e que se tornou essa mulher que fibra que é hoje ... Mãe , esposa , amiga , filha ...enfim ...MULHER

Unknown disse...

Olga,
Já falamos sobre esse assunto. Aliás, foi este assunto que nos reaproximou.
Nós nos conhecemos há muito tempo e acho que você também viu a minha mãe um pouco como sua mãe, né?
Você já aprendeu a lição: a gente sofre, mas não vai junto. Como eu disse, em "De Certo Nessa Vida": a gente se acostuma com a dor.
Beijos
Deborah

Anônimo disse...

Olga,
engraçado acabei de te ligar e fui ver meus emails e me tocou muito esse seu texto, onde você coloca todos esses sentimentos que nos corroem por dentro. Eu já passei por isso e realmente é a maneira mais dura que temos de aprender as coisas: com a dor. Mas uma coisa é certo: "Deus não nos dá nada que não suportamos carregar...". Quando perdi meu pai, sentir a dor mais forte que eu poderia ter sentido. E esse mês ele faz 17 anos
de falecido, mas muito vivo dentro de mim, pois sinto ainda o calor do abraço dele e o cheiro dele.
Portanto curta esse momento ao máximo, pois cada momento na nossa vida deve ser único.
Desejo um bom dia pra você, e como te falei um beijo bem forte pra sua mãe e pra Lilian.
Beth

Anônimo disse...

Querida Olga
Estamos passando por um processo de amadurecimento natural pois nossa ótica em diversos aspectos já nos direciona para esta visão , vislumbramos o novo através dos nascimentos e avanços tecnológicos e nos adaptamos a estas mudanças e com elas ;novas respostas a novos problemas nascem no cotidiano da evolução .
Como seres estamos em processo de evolução e involução determinando nosso ciclo de existência .
O que devemos é modificar cada olhar e buscar respostas para as adversidades da vida , pois certamente o nosso intelecto nos ajudará a compreender para depois aceitar .
Busque alternativas para encontrar um caminho gratificante , certamente você com essa capacidade enorme de sensibilidade aliada a sua força de superação conseguirá ser uma ponte , na qual sustentará essa fase ajudando a todos a sua volta .
Beijos
Martha

Anônimo disse...

É, minha amiga Olga, que tanto eu amo...
Crescer dói sim. Toda descoberta nos faz sorrir e chorar. As vezes, o peso de uma coisa triste é mais elevado do que uma notícia boa. Mas vc tem amigas, e isso já começa a ajudar. Nao remedia, mas ajuda.
Que estejamos sempre unidas em todas as horas.
Beijos

Anônimo disse...

Olga,
há muitos anos não nos vemos nem nos falamos, mas como vc me chamou no Orkut, acabei por entrar no seu blogger. Fiquei muito impressionada com a sua facilidade em expor em palavras sentimentos tão verdadeiros. Creio que estou passando por problemas de saúde na família semelhante ao seu, e vivencio essa tristeza, angustia, e certa de que temos que tomar decisões e ir adiante, com confiança em D´s.
Obrigada por me chamar !
Seguirei lendo seus textos !
bjs,
Patricia

Anônimo disse...

Olginha.
Demorei muito para achar você, ainda mais que não tenho muita intimidade com Internet,mas finalmente encontrei. Entendi demais sua dor, estive bem perto, já passei por isso também, sofri, chorei, mas como você mesmo disse, tinha que seguir em frente, criar filhos. E me fortaleci para muitos outros problemas que depois apareceram. O sofrimento nos amadurece e nos dá uma armadura para o que der e vier. Beijos da Tia Jajá.

Anônimo disse...

Resposta de um pai nao falecido, e que viveu, amou, criou, e ja como avo te diz :
O pai nao enlouquece, emburrece, por menos diplomas acumulados na vida em universidades, e no passar da vida nos momentos de alta complexidade no agir, tomar a frente, esse homem tem na somatoria de seus gens passados e presentes as açoes ja previstas a serem realizadas por mais dura que seja para voce ou para quem seja.
O pai esse ser que nao eterno dura, mas que quanto dure seja eterno em sua presença ao meu lado, e digo isso pois o meu morreu 3 dias antes vindo a ser substituido com louvor por meu avo-materno alias grande pai.
Como dizem os amigos Eu sou, mas defato ser apenas com meu Pai, e nada mais.
Pensar, e tudo que temos agora.
abraços
albino migueis picado